quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Caminho sem retorno



O CPA NUM CAMINHO SEM RETORNO

Uma Reunião de Presidentes de associações é, para qualquer entidade, um acontecimento importante que dignifica quem a promove. É o caso da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) que no passado dia 13 de Setembro promoveu na respectiva sede um encontro de trabalho dos presidentes das associações federadas.

Algumas (poucas) dezenas de homens e mulheres em representação de associações filiadas na FCMP disponibilizaram um dia para comparecerem numa reunião o que, nos tempos que correm, esta entrega à causa associativa, gratuitamente, tem que ser realçada e agradecida. Infelizmente muitos dos sócios destas associações não reconhecem esta desinteressada entrega.

Tinha esta Reunião de Presidentes como objetivo primeiro analisar a Proposta de Alteração de Estatutos que um Grupo de Trabalho da FCMP elaborou para ser apresentado pela Direção da federação numa Assembleia Geral que se irá realizar no próximo dia 4 de Outubro. A Proposta de Alteração de Estatutos tem caracter obrigatório pois destina-se a adaptar os Estatutos actuais às alterações ao Regime Jurídico das Federações Desportivas introduzidas pelo Decreto-Lei 93/2014 de 23 de junho.

A Direcção da Associação Autocaravanista de Portugal – CPA não deixou de se fazer representar e tendo constatado que a proposta de alteração do artigo 3º, que estabelece os fins da FCMP e continuava a definir o autocaravanismo como APENAS uma disciplina do campismo, propôs uma alteração a esse artigo.

É do conhecimento público que o CPA considera que é na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal que a defesa dos interesses e direitos dos autocaravanistas se podem e devem defender e, por isso mesmo, quer que a FCMP seja uma federação forte e moderna, pelo que, desde a primeira hora apoiou as mudanças que se impunham para alcançar esse objetivo, não só colaborando na eleição dos responsáveis (a todos os níveis) como incentivando à implementação do Programa de Candidatura então divulgado.

Não se suponha, contudo, que o apoio do CPA é cego. É um apoio com os pés bem assentes na terra e crítico, porque também só com críticas, construtivas, é possível que as instituições se renovem e dinamizem.

Supomos que todos reconhecem que a actual Federação não é a mesma que foi criada há uns 70 anos, como também não se pode desconhecer que as associadas que integram a Federação não são as mesmas que eram num passado um pouco longinco. Cresceram, desenvolveram-se, mudaram. Se assim não fosse não seriam o que são hoje.

É pois necessário que a Federação continue a crescer e a desenvolver-se para o que é imprescindível que se adapte às exigências do presente sem abdicar nem se envergonhar dos valores com que cresceu.

A evolução tecnológica e um então maior poder de compra dos cidadãos veio permitir que o material usado no campismo seja cada vez mais eficiente e contribua para um maior conforto dos campistas. Estão nesse âmbito, porque também podem ser considerados material campista, as caravanas e as autocaravanas.

Há, no entanto, que afirmar que o conceito que é subentendido nos Estatutos da Federação, ou seja, que a autocaravana é APENAS mais um material exclusivamente campista, é altamente redutor e não corresponde à verdade. Como é evidente o veículo autocaravana é mais do que isso (mais do que um material exclusivamente campista) e, desde há já alguns anos existe, no espirito de muitos e muitos autocaravanistas, o sentimento de que o autocaravanismo tem direito à autonomia e a ser, consequentemente, mais do que uma disciplina do campismo.

Esta convicção de que o autocaravanismo é mais do que uma disciplina do campismo está já tão enraizada nos espíritos de muitos e muitos autocaravanistas, que a FICC alterou, recentemente, a respectiva denominação para Fédération Internationale  de Camping, Caravaning et Autocaravaning (FICC) porque, ao que tudo leva a supor, quis passar a mensagem de que compreendia, TAMBÉM, o novo conceito de autocaravanismo. E, mais do que isso. Não quis deixar no âmbito de outras federações, que se reivindicam APENAS autocaravanistas, o monopólio desta modalidade em franca expansão.

Esse Movimento que acredita que o autocaravanismo é muito mais do que uma outra face do campismo teve também expressão na nossa vizinha Espanha quando nasceu, em 9 de Junho de 2007, a Federación Española de Asociaciones Autocaravanistas~FEAA que se começou por integrar na Federation Internationale des Clubs de Motorhomes (FICM). No entanto, tal como o CPA em determinado momento, poderão ter compreendido que a FICM não oferecia garantias de defesa dos direitos e interesses dos autocaravanistas pelo que terão aceitado o eventual convite da Fédération Internationale de Camping, Caravaning et Autocaravaning (FICC) para ser membro desta Federação Internacional onde, como é sabido, a FCMP está filiada.

Portanto, aqui mesmo ao lado, em Espanha, existe uma Federação Autocaravanista (com 12 associações inscritas) e que é reconhecida pela FICC. Porquê? Porque, possivelmente, a Federacion Española de Clubes Campistas não teve a abertura suficiente para reconhecer e acolher o autocaravanismo como uma actividade com diversas vertentes, o que pode ter sido a justificação para a necessidade da criação de uma federação autocaravanista.

Estes dois exemplos, o da FICC (alteração da denominação social) e o de Espanha (reconhecimento pela FICC de uma federação autocaravanista num estado onde já existia uma federação campista) devem fazer pensar os dirigentes e as associadas da FCMP. Prosseguir uma ideologia que até se quer que continue a ser plenamente refletida nos Estatutos da Federação, poderá conduzir, a curto prazo, a um ainda maior afastamento dos autocaravanistas da FCMP que, não obstante puderem querer continuar nesta federação, não aceitam que o autocaravanismo seja entendido numa única perspectiva e que seja estatutariamente definido, APENAS, como uma disciplina do campismo.

Também em Portugal já foi criada uma Federação de Autocaravanismo (FPA) que não tem a força e o reconhecimento da maioria dos autocaravanistas. Adquirirem mais força e reconhecimento depende, e muito, das deliberações que a FCMP vier a tomar na próxima Assembleia Geral relativamente ao autocaravanismo. Registo, como um dado adquirido, como aliás o demonstra o exemplo espanhol, que as autonomias são imparáveis se não forem criadas e aceites condições que correspondam aos anseios legítimos dos autocaravanistas.

Em abono da verdade há que realçar que os dirigentes da FCMP a diversos níveis terão compreendido a questão colocada pelo CPA pelo que na Reunião de Presidentes terão assumido o compromisso de rever o texto inicial da Proposta para ser votado em Assembleia Geral.

Os dirigentes da Associação Autocaravanista de Portugal – CPA demonstraram um corajoso respeito pelos princípios e valores do CPA e do autocaravanismo ao elevaram a fasquia reivindicativa, exigindo através de uma proposta realista que o autocaravanismo seja tratado como uma modalidade com mais que uma vertente e não APENAS como uma disciplina do campismo. Ao fazê-lo os dirigentes do CPA dispõem-se coerente e corajosamente a correr riscos e, também por isso, JÁ não podem ignorar que estão a avançar por um caminho sem retorno. É bom que os dirigentes federativos não ignorem, também eles, esta realidade.

No dia 4 de Outubro, a Assembleia Geral da FCMP convocada para analisar e votar as alterações Estatutárias, tem nas mãos a história e o futuro do CPA.


NOTA: Esta opinião baseia-se essencialmente no teor do Comunicado 2014-003 da Direção da Associação Autocaravanista de Portugal – CPA datado de 16 de setembro. (ver AQUI)


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) –  AQUI)



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