quinta-feira, 14 de abril de 2016

O SUBVERSIVO - A Real Assembleia




O SUBVERSIVO

1ª PARTE

Uma tragicomédia em 3 Actos que fala das venturas e desventuras do Carrocismo de antanho, uma obra teatral e só comparada com as representações da Grécia antiga, de natureza orgiástica, equiparada com as atribuídas a Gil Vicente, pai do teatro em Portugal e indiscutivelmente inspirada nos mui célebres escritos de William Shakespeare, o mais influente dramaturgo do mundo

Dada a extensão da peça, equivalente às epopeias clássicas, como a de Xenofonte (A retirada dos dez mil), a de Homero (A Odisseia) e a de Camões (Os Lusíadas), a mesma é apresentada em 3 sessões distintas.

A capacidade desta obra pode também medir-se pelas caracteristicas psicológicas das personagens que se encadeiam num jogo de interesses que nos prende à cena desde as primeiras pancadas de Moliére até ao cair do pano.

PERSONAGENS (por ordem alfabética): 1º Representante do Povo, 2º Representante do Povo, Auxiliar Administrativo, Cérebro Sorridente, Narrador, Pajem, Presidente, Príncipe dos Carroceiros, Príncipe que Gostava do Rei Anterior, Rei, Representante da Nobreza e Representante do Clero.

FIGURANTES (por ordem alfabética): 9 Clientes nas Mesas da Taverna, 1 Criada das Mesas da Taverna, 1 Filha do Rei, 1 Filho do Rei, 2 Representantes da Nobreza, 4 Representantes da República, 2 Representantes do Clero, 25 Representantes do Povo e 1 Taberneiro.

Se quiser acreditar, acredite. Se não quiser, não acredite. Tanto se me dá, como se me deu. Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência. Se tiver dúvidas guarde-as para si e seja feliz.


(Imagem do Blogue “Artecuero”)


TEATRO

O SUBVERSIVO


1º ACTO

(Abre o pano. Cortina negra à boca de cena. Holofote focado sobre o centro do palco onde se encontra o NARRADOR)


NARRADOR – No “Fazer Cá Muito Pouco”, pequeno país situado lá para os confins do mundo, estavam reunidos os representantes do povo, da nobreza e do clero sob o olhar atento do rei, preocupado com o avanço do “Fazer Pouco Agora”, país vizinho liderado por um presidente republicano com ideias conquistadoras.

O rei do “Fazer Cá Muito Pouco” já tinha enviado emissários ao “Senhor da Justiça” para que extinguisse o “Fazer Pouco Agora”, mas sem qualquer resultado. Voltou, por isso, por exigência de alguma nobreza, a enviar nova representação ao “Senhor da Justiça”.

Senhoras e Senhores, o que ides ver compete-vos, a vós e só a vós, ajuizar. Será verdade? Será mentira? Será um sonho? Será fruto da imaginação?...

Mas, vamos ouvi-los…


(O NARRADOR retira-se para o lado esquerdo da boca de cena. A cortina negra sobe e as luzes iluminam todo o palco. Ao centro, ao fundo, de frente para o público, o rei, sentado no seu trono, tendo aos pés os 3 filhos e 1 filha; à esquerda, de lado para o público, sentavam-se por ordem de importância, os 27 representantes do povo; à direita, também de lado para o público os 3 representantes da nobreza e os 3 representantes do clero.)


1º REPRESENTANTE DO POVO – (De pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade, sabemos que o Presidente do “Fazer Pouco Agora” está a difundir ideias divisionistas entre os Carroceiros de Vossa Majestade e a espalhar a notícia de que a primeira petição do Vosso “Real Antecessor” ao “Senhor da Justiça” foi arquivada e que as outras duas que se seguiram também o serão. (Senta-se)


REPRESENTANTE DA NOBREZA – (De pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade, é importante continuarmos neste capítulo a política do “Real Antecessor” de Vosso Majestade: uma no cravo e outra na ferradura. Lembro a esta ilustre corte e com todo o respeito a Vossa Majestade que já são muitos os que neste reino querem o regresso do anterior rei. Muitos foram os que se opuseram ao desterro do “Real Antecessor” de Vossa Majestade, um dos quais, perdoe-me Vossa Majestade tamanho desiderato, o “Príncipe Que Gostava do Rei Anterior”, que é o augusto filho que Vossa Majestade adoptou. Perdoe-me Vossa Majestade o meu atrevimento, mas só a lealdade e a estima que nutro por Vossa Majestade me leva a ousar dizer que “Príncipe Que Gostava do Rei Anterior” nunca concordou que Vossa Majestade tenha desterrado o Vosso “Real Antecessor”. Por isso é do interesse do reino prosseguir com as petições ao “Senhor da Justiça”...


(O rei irritado faz um gesto para que se cale; o 1º REPRESENTANTE DA NOBREZA senta-se; o Príncipe Que Gostava do Rei Anterior, filho adotivo, mostra-se incomodado)


REI – (Sentado) – O meu “Real Antecessor” estava a levar o reino para a destruição, por isso, tendo eu sido aconselhado pela nobreza e pelo clero, mas com o apoio do povo e dos Carroceiros a quem muito prometi, o destituí. E em boa hora o fiz, porque vim encontrar os cofres do reino muito depauperados e os funcionários deste reino muito pouco eficientes. Alegrai-vos, porém, meus bons súbditos. O meu augusto filho que foi encarregue do tesouro real já me informou que os cofres começaram a encher. Os funcionários do reino que quando fui coroado tremiam de medo, logo se submeteram ao saber da minha real boca que não seriam despedidos. Mas, ai deles se não obedecerem cegamente às ordens do “Perfeito do Palácio” que nomeei para os controlar, recompensando-o pela vassalagem incondicional que me jurou e pelo trabalho meritório que teve na destituição do meu “Real Antecessor”.

Quero que fiquem desde já a saber que por mim, Vosso Rei, as petições que enviei, mal aconselhado, ao “Senhor da Justiça”, já teriam sido retiradas e a embaixada regressado ao reino.


(Ouvem-se algumas palmas ténues e o 2º REPRESENTANTE DO POVO levanta-se e dirige-se ao público)


2º REPRESENTANTE DO POVO – Com um rei que não sabe o que quer e sem vontade própria, temos um reino “sem rei nem roque” (Senta-se)


REPRESENTANTE DO CLERO - (De pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade, a paz, a todo o custo, sempre foi a máxima ambição deste Vosso humilde súbdito. Por isso, sempre aconselhei Vossa Majestade a não promulgar éditos sobre os locais livres onde as carroças, tipóias, carruagens e outros veículos pudessem obter apoios. Pois se Vossa Majestade promulgasse tais éditos iria contra os interesses dos donos das estalagens e das cocheiras que são o suporte deste reino e em maior número enchem os cofres do tesouro real.


1º REPRESENTANTE DO POVO – (Levanta-se e com voz irada dirige-se ao rei) – Majestade, quando fostes coroado rei, em substituição do Vosso deposto “Real Antecessor”, assumistes o real compromisso de proteger todos os Vossos súbditos por igual e promulgastes um édito em que prometestes igual tratamento, justiça e benefícios a todos os Vossos leais súbditos. Quereis agora, Majestade, dar o dito por não dito e não cumprirdes o que prometestes? Pode a palavra de rei voltar atrás?


REPRESENTANTE DO CLERO - (De pé, dirigindo-se ao rei e ao público) – Majestade, pensai nos Vossos cofres e nos donos das estalagens e das cocheiras… (Senta-se)


1º REPRESENTANTE DO POVO – (De pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade, é por se pensar também nos interesses dos donos das estalagens e das cocheiras e, muito principalmente, nas estalagens e cocheiras reais, que um édito indicando os locais livres onde as carroças, tipóias carruagens e outros veículos pudessem ter apoios se promoveria de muito a modernização e adaptação às mudanças que os novos tempos aconselham e são impossíveis de parar e se justifica que as estalagens e cocheiras providenciem. (Senta-se)


2º REPRESENTANTE DO POVO – (levanta-se e dirige-se ao público) – Este rei que tem um “Real Conselho dos Carroceiros”, onde tem assento o “Príncipe dos Carroceiros” e apoiante do Partido Real, não lhes terá pedido conselho? Ao que parece, não terão sido instados a pronunciarem-se. Serão conselheiros apenas de nome para satisfação das suas vaidades? Deles, que se saiba em sua honra, pelo menos já três se escusaram a continuar num mister que só gastava numerário ao tesouro real, sem proveito para o reino. Não eram ouvidos e é do interesse dos negócios deste reino saber-se se o “Príncipe dos Carroceiros” é entendido neste mister. (senta-se)


REI – (Levanta-se irritado) – Que todos me ouçam, porque esta é a minha vontade:

Fui aconselhado e assim farei, salvo se em contrário a isso as cortes me obrigarem, a não promulgar nenhum édito indicando os locais livres onde as carroças, tipóias, carruagens e outros veículos possam ter apoios.

Irei nomear dois dos meus reais príncipes para estabelecerem contactos com a república “Fazer Pouco Agora”. Nomeio, para tanto, o “Príncipe Que Gostava do Rei Anterior”, que infelizmente foi leal às políticas do meu “Real Antecessor”, e também nomeio o “Príncipe dos Carroceiros”, que super-entende ao “Real Conselho dos Carroceiros”. Nesta real missão que lhes destino responderão perante mim e só perante mim. O rei falou.


(O 1º e 2º Representantes do Povo fizeram menção de se dirigir ao rei, mas foram impedidos com um gesto brusco do rei. O rei, seguido dos 3 filhos e da filha, prepara-se para sair pela direita alta. Imediatamente antes de sair vira-se para os presentes e…)


REI – (De dedo ameaçador) - Que tudo o que aqui se disse é segredo de estado. Já outras cabeças rolaram por menos. (Sai)


(Musica de fundo, em ascensão enquanto o rei, seguido dos 3 filhos e da filha, sai pela direita alta, os representantes do povo, do clero e da nobreza, de pé, fazem uma vénia e o pano desce)

FIM DO 1º ACTO


O 2º Acto de “O SUBVERSIVO”, tragicomédia em 3 actos, será apresentado nesta mesma sala na próxima Quinta-feira, dia 21 de Abril de 2016. Esperamos por si.


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)


1 comentário:

  1. Ok, e porque não saímos e fazemos uma Federação do autocaravanismo só nossa?

    ResponderEliminar